Não sabemos em que data a igreja de Fortios – a que “os mouros chama[va]m S.
Domingos da Penha”, como refere o Pe. Diogo Sotto Maior – passou a ter estatuto
paroquial. O manancial de informação recolhido no excelente livro do Cónego
Bonifácio Bernardo (cuja leitura recomendo vivamente) indica-nos apenas que desde 1501 os
sacramentos eram administrados pelo pároco de Sta. Maria do Castelo de Portalegre, sendo
provável que a freguesia tenha sido criada por volta de 1575.
Não sabemos ainda em que data a igreja passou a ter a largura que ainda hoje se verifica nem
quando se instalaram os altares colaterais dedicados a São João Baptista e a Nossa
Senhora do Rosário (antes com o título do Socorro). É provável que tenha
sido nesse último quartel de quinhentos ou já no século XVII, inícios,
altura em que se deu algum investimento artístico, visível por exemplo na interessante
imagem de Nossa Senhora com Menino, em pedra, proveniente das oficinas de Coimbra dessa
época. Terá sido nesse período que a parede sobre os retábulos
secundários e o arco da capela-mor recebeu pintura mural, que surge por debaixo da cal. Em
1758 a sua aparência era a seguinte:
“[…] [tem] três altares, maior e colaterais; no maior uma Imagem sagrada de
Cristo na Cruz, ao lado do Evangelho [São Domingos], ao da Epístola santo
António. O colateral do lado direito tem Nossa Senhora do Rosário em pedra
mármore, aos lados o Salvador do Mundo e são Macário; e o do esquerdo
São João Baptista e ao lado direito são Miguel. A capela-mor está de
abóbada, e o mais corpo da Igreja se sustenta em duas colunas de pedra de cantaria, e sobre
elas e grosso das paredes quatro traves, que pelo modo com que estão dividem a Igreja em
três naves […]”
Na segunda metade do século XVIII, os altares colaterais receberam dois retábulos
tardo-barrocos de alvenaria pintada (que deverão ser preservados em futura
reconstrução, pois são bom exemplo de uma arte muito difundida, hoje estudada
com atenção pelos historiadores de arte). Já no século XIX, meados,
foram retiradas as colunas que dividiam a igreja, tornando-a mais ampla; nessa época, recebeu
a igreja várias imagens de santos, valiosas, provenientes de conventos extintos em
Portalegre, nomeadamente do convento de Santo António. A fachada, dotada de pórtico de
volta perfeita, em cantaria, datável de finais do século XVI, possuía apenas um
campanário. Só muito tardiamente recebeu uma torre sineira.
Em mau estado de conservação, as
diligências do pároco da época não conseguiram impedir a sua derrocada
parcial em 1925 e a transferência da sede paroquial para a pequena e insuficiente igreja de
São Sebastião, situada na aldeia dos Fortios. Houve tentativas de
reconstrução logo em 1926/27, chegando a ser reedificada e alteada a torre, em 1929. O
facto é que todas as diligências se goraram e noventa anos depois continua numa triste
ruína.
Espera-se que o futuro lhe traga melhores dias. Se tal
reconstrução ocorrer, como se deseja, ela deve respeitar e restaurar todos elementos
patrimoniais artísticos ainda subsistentes, com a intervenção de
técnicos especializados, devidamente certificados. Será ainda uma boa ocasião
para a arqueologia escavar tão rico local. Certamente não perderá o seu
tempo.